26 de outubro de 2009


Depois que a vida alcança um certo estágio, a duração dos anos se equivale à dos meses, mas eu me lembro muito bem daquele dia. Bons amigos tomando um drink para esquecer os tropeços da vida, e, inconscientemente, dando o primeiro passo para um bom romance. Bons romances nascem justamente onde não há expectativa que eles nasçam. Esse foi o meu caso. Ele, sempre muito detalhista, reparou nos meus brincos, e até se lembrou que só posso usar os de ouro ou prata. Há quanto tempo eu não recebia um elogio? Há quanto tempo eu era apenas mais um vírgula em meio a tantas outras? Ele é diferente, tive a certeza. Aproveitei a ocasião para perceber que sua camiseta Polo realçava o brilho dos seus olhos. Será que ele me olhava assim, tão terno, apenas querendo desabafar suas dores de amor? Talvez ele esteja reparando em cada detalhe do meu rosto e torcendo para que esse momento não acabe tão cedo. A segunda opção me agrada mais, mas não é hora de querer que as coisas saiam conforme meu desejo. Ele continua me controlando pelo olhar, não desviando a atenção nem para seu copo cheio de whisky. Que bom que ele gosta de beber. Não há nada melhor do que romances regados a vinho. Whisky deve ser bom também.
Ficção não é comigo, ele sabe. Não tenho medo de lhe revelar minhas angústias passadas. Só ele para acreditar na veracidade de tais fatos enquanto todos desconfiam. Ele me ouve tão compreensivamente. Será que lhe contaram que é justamente disso que eu preciso? Minhas palavras nunca tiveram um companheiro fiel afim de ouvi-las incessavelmente. Veja onde eu o encontrei, mesmo o conhecendo há tantos anos: numa mesa de bar saturada de bebidas vazias e cigarros jogados. Essa vida é mesmo muito engraçada. Por que ele continua me conquistando tanto? Nós podemos não dar certo e amanhã não existir nem amizade. Ele me vê frágil. Por que se aproveitar? Prefiro continuar solteira do que perder essa amizade.
A noite passa tão rápido a ponto de não percebermos os primeiros raios de sol. "Conheço um lugar ótimo para apreciar o nascer do sol". Ele me explica que há um cais abandonado que parece ser feito para os amantes de tal espetáculo e nós vamos até lá. Sigo o carro dele durante todo o caminho e minha pele já parece fria sem sua companhia. Isso não está acontecendo. Não conosco, por favor.
Chegamos rápido ao tal cais, e por não saber dizer se as ruas estavam mesmo calmas, percebo que minha atenção é toda dele. O nascer do sol realmente é mágico, sem querer limitá-lo. Ficamos juntos nesse ambiente que reúne tantas sensações visuais. Um abraço para alimentar nossa vontade. Mais uns instantes contemplando o restante. Um beijo. Um beijo fatal, doce e incrivelmente fantástico. Meu cérebro nunca conheceu tal sensação, de tão boa. Ele nunca me olhou daquele jeito. Na hora, desejei filmar para eternizar tal momento, mas não foi preciso. Até hoje sinto a mesma sensação, tremo com o mesmo olhar. Não preciso querer reviver tal noite, conseguimos construir melhores a cada vez. E isso já faz tempo, muito tempo.

Um comentário:

J.F. Marques disse...

Oii :)
Muito bem feito, e ótimo o seu texto, querida. Como sempre escrevendo bem, essa história aí ficou fantástica.
Já era tempo de atualizar, né?
Gosto quando você escreve esses textos grandes, gosto de todos, mas é que os grandes eu demoro mais para acabar de ler, então agrada bastantão.
Continue postando!
Beijãão ;***