
O chuveiro está ligado e a água está escorrendo. Delicadamente, molha cada centímetro do meu corpo, se contrastando com a brutalidade que as lágrimas marejam meus olhos. Não choro por estar nervosa, como sempre faço. Choro por não conseguir comprender a complexidade e frieza que me acercam. Não posso entender - muito menos aceitar - como aqueles olhos tão sutis são capazes de me enxergar assim agora. Há tão pouco tempo eram meu abrigo, agora são minha maior fonte de dor. Dor por não imaginar que poderia receber uma traição tão grande.
Em poucos minutos de racionalidade, percebo que toda essa pontualidade de ações é tão incompreensível quanto a pontualidade em que nosso mundo se perdeu. Como duas vidas traçam um caminho só, para depois dois caminhos virarem apenas uma vida passada? Eu sei, não dá para entender. Assim como várias outras perguntas não tem explicação. As que têm, não são aceitáveis. Duas faces em uma pessoa só não é aceitável. Nunca será, isso é certo.
O coração acelera. Uma viagem, uma tarde e uma tentativa. Depois, uma noite também. Outra tentativa, dessa vez mais recompensada. Onde será que ficaram nossas asas? Naquela cidade, naquela noite ou dentro do automóvel, antes de eu descer? Não sei, talvez ninguém saiba. E, se quer saber, não é hora de me preocupar com isso. Não há tristeza que dure tanto. Assim como estarei renovada após esse banho, sairei amadurecida dessa crise nostálgica que insiste em perturbar minha cabeça.
Um comentário:
Escrevendo sempre bem, como em todos os textos, né!
Parabéns, querida, consegue colocar cada detalhe, de forma que o leitor consegue imaginar o que está acontecendo.
Continue postando...
Beiiijos ;**
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